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ENSAIOS

de escrita, culinária, economia e finanças, bem-estar e reflexões sobre parentalidade

Maurício

  • Foto do escritor: Juliana Machado
    Juliana Machado
  • 15 de jul. de 2022
  • 2 min de leitura

Atualizado: 14 de set. de 2024

Maurício é um cara muito bacana. Divertido, simpático, esperto. Desses que junta muitos amigos e que a conversa flui que é uma beleza. Mas tem uma coisa dele que muitos não entendem: o ritual da comida. Ele arruma a mesa, dispõe talheres, pratos, potes, copos, guardanapos. Se concentra, se prepara, se delicia, aproveita. Não adianta apressar, nem enrolar ou tentar distraí-lo. No máximo você consegue chateá-lo.


Teve uma vez que isso aconteceu bem assim mesmo. Ele ficou brabo, chateado de verdade, mas tanto que chorou de raiva. Quem viu até se espantou. Ele se apressou para contar pela responsável pelo turno por aquele inconveniente. Queria providências urgentes. Entre lágrimas, relatou: Tia, o Miguel falou que meu lanche não é lanche, é é é é…. um almoço!!!! E as lágrimas corriam…


Ah, eu não contei? Nem percebi. Maurício tem 5 anos e o aconticido ocorreu na escola. Sim, ele arrumava tudo para lanchar e, nesse meio tempo, os amigos corriam para brincar e queriam a sua companhia – ele era mesmo muito querido de todos, mas ele queria era se deliciar com tranquilidade, não tinha pressa. A mãe dele capricha na lancheira e ele ama. Nesse dia, por exemplo, o lanche era tomate cereja com ovo de codorna, azeitona e uvas. Eu salivei só de pensar, mas o amigo não entendeu porque não tinha o costume de comer essas coisas fora do almoço. A tia esclareceu que não havia problema, que era um lanche gostoso e saudável e que o Maurício gostava e isso bastava. Sugeriu também que o Maurício desse um ao amigo. Ele, contrariado, cedeu - dividir comida não era a praia dele. O menino provou, aprovou, mas queria mesmo era correr no recreio. Maurício enxugou as lágrimas e disse, encerrando o assunto: vou quando terminar.

Adaptação caseira da lancheira do Maurício

Ah, mamãe do Maurício, que mágica é essa que você fez na sua cria? O menino come saudável, tranquilo e ainda resiste às influências dos amigos? Demais. Quanta lição num único evento! Se bem que…. bom, eu não me surpreenderia se ela dissesse que isso é coisa dele. Afinal, ele é um cara divertido, simpático, esperto em tanta coisa, autêntico como ele só. No mínimo, isso há de ser um encontro, porque nos dias atuais preparar uma lancheira assim é revolucionário e qualquer mãe (ou pai, evidentemente) ficaria exausta se a iniciativa não tivesse uma boa recepção.


A verdade é que a gente muda muito para ser mãe dos nossos filhos e cada filho exige uma espécie de mãe. Não há oportunidade melhor ou maior de mudar, evoluir e assim ir contribuindo para que os Maurícios que existem por aí não sejam calados pelo turbilhão que é o recreio ou a vida em grupo, em sociedade, e sim floresçam e tragam um pouco de luz onde passem, um ovo de codorna de cada vez.


Eu sei que agora toda vez que arrumo a lancheira das minhas filhas e acrescento um guardanapo bacana, um potinho bem pensado ou uma comidinha incomum, eu penso no Maurício e agradeço o toque desse exemplo. Ô, Maurício! Passa lá em casa, vem ser amigo das minhas filhas! Prometo ovos, uvas, azeitonas e tomates e prometo também não atrapalhar os planos de vocês de revolucionar esse mundo!

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