O começo, no passado
- Juliana Machado
- 22 de jun. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 14 de set. de 2024
Sobre como a caminhada começou, nem que seja nas ideias.

A gente gostava de imaginar como seriam os nossos natais no futuro. Eles seriam realizados na casa da irmã mais velha, que seria grande, com quintal e bichos. Seria simples, mas acolhedora. Seus 5 filhos seriam bem danados e alegres e seria em grande parte dela a ceia. Minha irmã mais nova chegaria com seu 1 filho bem arrumadinho e gravata borboleta e vários presentes pequenos e valiosos. Ela traria algum prato gourmet e, com alguns minutos ali, os 5 da mais velha já teriam cooptado o 1 da mais nova, que já estaria correndo descabelado pela casa. Eu chegaria por último, em cima da hora, com uma torta comprada pronta, ainda arrumada do trabalho e sem filhos.
Engraçado reparar agora que não falávamos dos maridos, nem dos nossos pais...
Eu aceitava essa versão sobre mim por fora, mas por dentro parecia que aquilo não soava correto, parecia vazio, eu me sentia vazia... De alguma forma, ali meio às avessas, pela negação do que era posto, nem que seja no campo das ideias ainda, eu comecei a traçar a minha caminhada, a minha contrariedade e o meu passo - e ele me levaria a um caminho bem distinto daquele imaginado.
Ser família me define, sempre definiu, e ter uma e poder me dedicar a ela é um grande prazer e privilégio. O trabalho tem sim importância e espaço de satisfação pessoal, mas com o tempo fui ganhando novas visões da vida, novas perspectivas sobre o tempo, o mundo e a sociedade, e então aquela sensação que antes vinha contida no peito, foi ganhando espaço e eu fui aprendendo a valorizar e priorizar outros aspectos da minha vida. Hoje prezo muito mais a leveza, a simplicidade e, por que não admitir?, um ritmo de vida mais lento, em que se vive e se aproveita mais cada momento.
Talvez aquela visão lá atrás tenha sido meu primeiro despertar, primeiro de muitos...
Tudo isso, claro, é sobre mim apenas e é o que busco, todos os dias. É, no entanto, um esforço, porque a vida e a sociedade, se deixo, me apertam e me fazem correr. Resisto o quanto posso, e esse espaço aqui faz parte disso.
Então posso afirmar que aquela cena não vai mais ocorrer daquele jeito - muita coisa mesmo hoje já é diferente - e que, se um dia pudermos morar todas numa mesma cidade, um sonho que sequer ouso sonhar, o natal talvez ainda ocorresse na casa da mais velha, e a mais nova provavelmente seria a mais gourmet, mas eu estaria lá desde cedo, com minhas filhas danadas e alegres e marido, na companhia dos nossos pais, com presentes e comidas boas, pra curtir muito e a cada um.

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